O ministro das Telecomunicações, Tecnologias de informação e Comunicação Social, Manuel Homem, negou, neste domingo, a existência de censura na TV Zimbo e outras empresas do sector que reverteram recentemente para o Estado angolano. Enquanto não o exonerarem, o homem continuará a dar tiros nos pés de… João Lourenço.
Ao intervir na cerimónia alusiva aos 45 anos da Televisão Pública do MPLA (TPA), afirmou que os órgãos apreendidos a entidades privadas continuam a trabalhar “normalmente”. Segundo o titular da carteira, ou pasta, estas empresas, constituídas com fundos públicos e detidas (para que os titulares desses mesmos fundos passem a ser outros) até então por agentes privados, mantêm-se fiéis às suas linhas editoriais desde que, é claro, cumpram (com rigor, isenção e ética) as ordens superiores do MPLA (versão João Lourenço).
Com este pronunciamento, Manuel Homem respondia a críticas da sociedade civil de uma suposta interferência do Governo na TV Zimbo e noutras empresas. Críticas injustas, obviamente. Desde logo porque todos sabem que, sejam quem for o dono do partido, o MPLA é Angola e Angola é (d)o MPLA.
Estas ideias ganharam corpo depois de uma denúncia do jornalista e economista Carlos Rosado, que afirmou publicamente ter sido impedido de abordar o tema Edeltrudes Costa no espaço de análise “Directo ao Ponto” da TPA 3, ex-TV Zimbo.
Noutro domínio, o ministro Manuel Homem assegurou que o Estado está a trabalhar para concretizar, até 2021, o processo de privatização destas empresas. Privatização que terá como única exigência que cumpram, com rigor, isenção e ética as ordens superiores do MPLA (versão João Lourenço).
Trata-se de empresas do sector que passaram para a esfera do Estado, este ano, ao abrigo da Lei de Repatriamento de Capitais e Perda Alargada de Bens.
No âmbito deste processo, reverteram para o Estado as empresas do Grupo Media Nova (Tv Zimbo, jornal O País e Rádio Mais), bem como do grupo Interactive Empreendimentos Multimédia, Lda (TV Palanca, Rádio Global e Agência de Produção de Programas de Áudio e Visual).
“O Executivo mantém o seu compromisso de conservar os postos de trabalho nestes órgãos, continuar a garantir o pagamento dos salários aos seus trabalhadores e de pugnar pela pluralidade e diversidade da informação”, rematou.
Ter onde colocar o chapéu não significa ter cabeça
O ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social de Angola, Manuel Gomes da Conceição Homem, reiterou, no dia 3 de Maio, o empenho para o fortalecimento da comunicação social, cuja missão favorece, disse, o exercício da cidadania e reforça a vitalidade da democracia no país… desde que sigam as ordens superiores do MPLA.
Numa mensagem no âmbito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que nesse se assinalou, o ministro avançou que o Executivo estava firmemente empenhado na promoção de um ambiente político favorável que propicie a elevação da liberdade de expressão e de informação, bem como a exequibilidade da missão de comunicar na sociedade angolana, dentro dos princípios universais alicerçados em valores e acções que dignifiquem a classe.
Para procurar esse desiderato, Manuel Homem resolveu exemplificar o objectivo da estratégia governamental… não convidando o Folha 8 para o encontro que manteve com os “filhos” e alguns enteados do regime.
“O Estado reconhece o papel imprescindível que a comunicação social assume na defesa e na preservação do estado democrático de direito, dos esforços conjuntos que visam o desenvolvimento do país, numa altura em que a Nação é chamada a empreender acções de diversificação da economia, transparência, combate à corrupção e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”, lê-se na mensagem o ministro.
Claramente se vê, a não ser que seja mais uma “gralha técnica”, que o ministro sabe do que fala, um pouco na linha do raciocínio intestinal (grosso) dos peritos de João Lourenço. Note-se que Manuel Homem é um especialista na matéria, não sendo despiciendo lembrar que é licenciado em Engenharia Informática de Sistemas pela Universidade Privada de Angola – UPRA; mestrando em Tecnologias e Sistemas Web pela Universidade Aberta de Lisboa e tem formação Especializada em Gestão de Projectos pelo Instituto IETEC de Belo Horizonte (Brasil),
Manuel Gomes da Conceição Homem adiantou que a liberdade de imprensa indica a saúde democrática e de transparência para a sociedade que muito contribui para o exercício responsável e comprometido da actividade jornalística, associada à pluralidade de opinião, da elevação do Estado de Democrático e de Direito, e abertura à cidadania participativa. Para melhor se entender o raciocínio do Homem vejam-se os exemplos da TV Zimbo e Palanca TV.
Bem visto, senhor Ministro. Daí o facto de, segundo organizações internacionais, em termos de liberdade de imprensa, Angola e Brasil serem os dois países pior classificados, no ranking, entre os da Lusofonia. Confirma-se a tese do MPLA. A nossa democracia está mesmo doente. Se calhar até já morreu… só que os angolanos ainda não sabem.
No actual contexto marcado pelo impacto da Covid-19, segundo o ministro, deve-se levar os jornalistas e demais comunicadores (presume-se que os paradigmas a levar em conta continuam a ser, entre muitos outros, João Pinto e António Manuel Luvualu de Carvalho) ao comprometimento com a verdade, evitando, assim uma segunda pandemia de desinformação.
Manuel Homem exortou, ou não fosse um dos mais credenciados e eruditos conhecedores desta actividade, os profissionais da comunicação social a trabalharem num jornalismo cada vez mais competente, rigoroso, responsável, isento, patriótico e que respeita a ética e deontologia da profissão e da lei, cumprindo as ordens superiores do MPLA (versão João Lourenço).
Manuel Homem aproveitou a ocasião para felicitar os órgãos de comunicação sociais públicos e (alguns) privados e a dedicação especial dos jornalistas e quadros do sector pelo trabalho que desenvolvem na prevenção e combate à Covid-19.
O satélite do Homem… Manuel
Em Dezembro de 2017 as autoridades do MPLA asseguravam que o primeiro satélite angolano, acabado de lançar, estava sob controlo, ao contrário de notícias indicando que a Rússia havia perdido o contacto com o aparelho. Ou seja, o Governo desmentia o que não fora dito e, involuntariamente, confirmava o que foi dito.
Na altura, nenhuma notícia, como se pode verificar abundantemente (aqui no Folha 8 por exemplo), dizia que as autoridades russas perderam o controlo sobre o satélite. Quanto a perder o contacto, o que é – pensamos – diferente de perder o controlo, a própria Corporação Estatal de Actividades Espaciais Roscosmos, órgão governamental responsável pelo programa de ciência espacial e pesquisa geral aeroespacial da Rússia, confirmava essa “dificuldade”, afirmando que “tudo indica que será um problema transitório”.
Em declarações no dia 27 de Dezembro de 2017 no final do Conselho de Ministros, o então brilhantíssimo secretário de Estado para as Tecnologias de Informação, Manuel Homem, rejeitou que existissem problemas nos contactos com o satélite, cumprindo-se o que estava previsto.
Manuel Homem mostrou, claramente, que também nesta matéria não sabia do que falava e, como habitual, não falava do que sabia. O que estava previsto era que o Angosat, depois de entrar em órbita, começasse a transmitir dados. E isso não aconteceu, o que levou os técnicos a falar de perda da telemetria.
“O contacto cessou temporariamente, perdemos a telemetria”, indicou fonte do cosmódromo à agência France Presse, dizendo esperar restabelecer o contacto com o satélite.
Manuel Homem perdeu igualmente a “telemetria” do MPLA/Governo, esquecendo-se que não estava a, supostamente, desmentir a KCNA (Korean Central News Agency) mas sim a France Presse.
Ora, segundo o governante angolano, o que “aconteceu é que de facto o lançamento do satélite ocorreu. O satélite fez o seu percurso normal, está na órbita para o qual foi planificado” e “temos sob controlo o satélite”, disse Manuel Homem, citado pela agência noticiosa angolana Angop, infelizmente ainda uma versão (apesar de tudo de melhor qualidade) da KCNA.
Manuel Homem remeteu para mais tarde mais informações oficiais sobre o estado do aparelho. Como? Estado do satélite? Então se estava tudo normal e como previsto, o que haveria a dizer sobre o estado do Angosat?
Na mesma altura o então ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, disse que 40% da capacidade comercial do satélite já está reservada e que o Estado angolano estima a recuperação do investimento em pelo menos dois anos.
Por último, o Folha 8 recorda ao ministro Manuel Homem uma das nossas regras de ouro: Se o jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se consegue saber o que se passa mas se cala é um criminoso. E nós – por muito que o regime queira – recusamo-nos a ser imbecis e criminosos.